Ao lado direito do site, nos "Marcadores" Faixa a Faixa, aparecem todos os postados. Só clicar e ver.
A Arma e a Flôr - (Zupo/Tharso)
Do álbum Big Balls - 1996 - Big Balls (1996)
1992, o presidente Fernando Collor, na noite anterior, era expurgado pelo povo e pelas ruas vestidas e tingidas de preto. Lá fora o dia ainda era de revolta e eu e o parça Paulo de Tharso (D.E.P.), fazíamos uma longa sessão de cachaça e cicuta em seu apartamento que, se não me engano, naquele momento ficava na Av. Dória; difícil lembrar todos os endereços onde ele morou mas pela memória e o google maps essa era a rua naquele período. O assunto era esse, Collor.
Naquele tempo já existia o Big Balls, que perambulava pela noite tocando covers de Hard Rock e havia distribuído duas demos em fita K7 de músicas próprias desde 1988, mas Tharso não era da banda ainda e nós dois havíamos montado um projeto acústico alter ego chamado "Bagus Plenus", expressão que eu roubei do livro "Os Carbonários" de Alfredo Sirkis, onde tocávamos blues e tropicália, também começávamos a compor algum material próprio.
A Arma e a Flôr nasceu assim, doses de cachaça, cicuta com açúcar e já era de manhã quando começamos a gritar que "lá fora o dia é de revolta".
Tudo nasceu nessa virada de noite. O Riff, a sequência inteira e a letra. Ficamos discutindo pois eu escrevi a parte que diz "Eu sei da mão que manipula. Na bula do remédio, dôr" e ele queria cantar "A bula do remédio e dôr". Claro que ele como dono da voz, de grande parte da letra e de posse do microfone na hora de todas as gravações e shows venceu até a minha conhecida disposição por argumentar detalhes, porque o demônio vive nos detalhes e nós dois éramos bastante detalhistas, logo...
Não demorou mais que uma semana para que A Arma e a Flôr passeasse pela programação da Brasil 2000 fm 107,3 em uma gravação produzida pelo Osmar Santos Jr nos estúdios da rádio em uma mesa de 8 canais e um tape de rolo. Dia desses achei essa gravação em K7 e futuramente a digitalizarei e acoplarei a esse post. Naquele tempo a Brasil 2000 fm, a rádio da ponta, era literalmente a casa de todas as bandas independentes de Sampa e apoiava todo o movimento, tudo o que se movia, sem os "meandros" costumeiros de rádios mainstream. Infelizmente quando A Arma e a Flôr teve sua gravação oficial em álbum tivemos rejeição por parte do Tatola, que, naquele ano, agora 1996, havia assumido a direção da rádio e boicotou completamente o Big Balls na programação, sabe-se lá por qual razão já que havia agora até uma gravadora envolvida e seus divulgadores estiveram em reunião com o próprio levando o álbum, musicalmente nem preciso dizer, o álbum fala por si. Já a 89 também não aceitou tocar Direto Pro Paredão, alegando que era "Hard Rock" demais e a rádio chegou a mostrar, pelo que nos foi dito, em uma reunião com nossos produtores uma faixa de uma banda nova como um exemplo do tipo de Rock que eles achavam ser a nova linguagem e nela apostavam, o "Baba Cósmica". Sendo assim, o Tatola, que havia saído da 89 para dirigir a Brasil 2000 nos boicotou pois queria transformar a Brasil 2000 na 89 e a 89 nos boicotou porque éramos Rock e Hard demais em som e verbo. Ficamos sem o apoio da Brasil 2000, que era nossa casa e a qual vários da equipe haviam nos visitado no estúdio durante as gravações e aguardavam o lançamento para tocar, mas essa mudança de administração aconteceu exatamente durante os meses de finalização e lançamento do álbum. Coisas da vida.
Porém, que Deus e o Diabo (que é o tal pai do Rock), tenham a Brasil 2000 Fm em ótimo lugar, porque apesar desse período que durou uns 3 anos, ela sempre apoiou os independentes (e sou eternamente grato pelo apoio a tantos trabalhos em que me envolvi, como o Pedra já no séc XXI), e sempre foi a verdadeira rádio Rock de Sampa, junto à extinta 97 fm.
Enfim...pulei de 92 para 96 mas voltando à faixa, eu e Tharso a tocávamos pela noite em dupla acústica "Bagus Plenus" e até chegamos a crescer e virar por um breve período uma banda quando agregamos Norton Lagôa no baixo e Fernando Rapolli na bateria, passamos então a tocar em algumas casas e porões, onde rolasse, algumas datas no Morcegóvia,, que era o extinto Madame Satã e nos abriu as portas. Isso deve ter durado um ano e meio e desse time maior também nasceu outra das músicas que foram parar no álbum do Big Balls, "Minha Cabeça".
Com o fim do Bagus Plenus, eu havia vendido o apto em que morava e comprado uma casa caindo aos pedaços no bairro do Ipiranga para montar meu primeiro estúdio e tentar começar a produzir Demos.
O Big Balls estava parado desde o fim de 1992 e eu havia entrado no Nexus 6, onde tocava cover pela noite mas a vontade de voltar a produzir demos com o Big Balls era grande, afinal a banda ainda que estacionada, era a minha casa e meu xodó, mesmo que durante todo esse período eu tivesse feito parte também do Harppia e da Patrulha do Espaço onde gravei o álbum "Primus Inter Pares".
Sendo assim, após construir o estúdio em começo de 1994, caminhei para remontar o Big Balls como banda apenas autoral. Durante os anos de 1994 e 1995 vários músicos passearam pela banda, Rogério Fernandes, José Luiz Rapolli, Renato Panda Gonçalves, Marco Ackua Calomino, Pedro Crispi e Alex Soares enquanto eu produzia demos atrás de demos.
**(esses três últimos estão em várias demo tapes e os dois últimos no álbum Big Balls e com eles e Paulo de Tharso foi o período mais produtivo de toda a história da banda).
Essas demos culminaram com o contrato com a East & West da WEA e Continental e com a convocação do Paulo de Tharso para os vocais do álbum e sua inestimável parceria e genialidade. Muito obrigado, meu amigo. Foi e é uma honra ter minha história para sempre atrelada à sua.
O resto da história do Big Balls está distribuída em posts pelo site.
A Arma e a Flôr foi regravada ou finalmente gravada em formato banda e com magnífica produção no Mosh Estúdios em São Paulo para o álbum do Big Balls.
Lá fora o dia sempre continua de revolta, cá dentro continuamos conhecendo o texto.
Ano passado após quase 20 anos voltei a tocar A Arma e a Flor e a lancei ao vivo no show em que comemorei 35 anos de estrada no Sesc Belenzinho e no Live Sessions do Estúdio 500 juntamente a parceiros que generosamente emprestaram seus talentos para que essa história continue.
Muito obrigado, Fernando Janson, Ricardo Alpendre, Marcião Gonçalves e Ivan Scartezini.
A Arma e a Flôr - (Zupo/Tharso)
Hoje acordei com raiva de mim
Não gostei do que vi no espelho
Olhos saltados, olhos de rã.
Olhos de quem não tem a mente sã.
Lá fora o dia é de revolta, cá dentro já conheço o texto.
Eu vejo a cruz desesperada, a mão armada do rancor
A flôr por botas esmagada, a roda viva do terror.
Eu sei da mão que manipula a bula do remédio e dôr.
No espelho tudo se mistura, a cruz, a arma e a flôr.
Eu vejo a cruz incendiada, a mão armada do rancor.
A flôr por botas esmagada, a roda viva do terror.
Eu sei da mão que manipula a bula do remédio e dôr.
No espelho tudo se mistura, a cruz, a arma
Eu sei da mão que manipula a bula do remédio e dôr.
Cerzir a mágoa com agulha e transformá-la em cobertor.
Eu vejo a lua dos poetas ofuscada por neons
e morurôa engolindo, engolindo megatons.