terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Faixa a Faixa nº 9 - A Arma e a Flôr

Faixa a faixa são posts onde falo um pouco das músicas que fiz na estrada. As mais queridas, as mais difíceis, as mais inspiradas...enfim as minhas mais mais, para quem quer saber um pouco mais e passa por aqui. Vou escrevendo conforme bater vontade...
Ao lado direito do site, nos "Marcadores" Faixa a Faixa, aparecem todos os postados. Só clicar e ver.


A Arma e a Flôr - (Zupo/Tharso)
Do álbum Big Balls - 1996 - Big Balls (1996)




1992, o presidente Fernando Collor, na noite anterior, era expurgado pelo povo e pelas ruas vestidas e tingidas de preto. Lá fora o dia ainda era de revolta e eu e o parça Paulo de Tharso (D.E.P.), fazíamos uma longa sessão de cachaça e cicuta em seu apartamento que, se não me engano, naquele momento ficava na Av. Dória; difícil lembrar todos os endereços onde ele morou mas pela memória e o google maps essa era a rua naquele período. O assunto era esse, Collor.
Naquele tempo já existia o Big Balls, que perambulava pela noite tocando covers de Hard Rock e havia distribuído duas demos em fita K7 de músicas próprias desde 1988, mas Tharso não era da banda ainda e nós dois havíamos montado um projeto acústico alter ego chamado "Bagus Plenus", expressão que eu roubei do livro "Os Carbonários" de Alfredo Sirkis, onde tocávamos blues e tropicália, também começávamos a compor algum material próprio.
A Arma e a Flôr nasceu assim, doses de cachaça, cicuta com açúcar e já era de manhã quando começamos a gritar que "lá fora o dia é de revolta".


Tudo nasceu nessa virada de noite. O Riff, a sequência inteira e a letra. Ficamos discutindo pois eu escrevi a parte que diz "Eu sei da mão que manipula. Na bula do remédio, dôr" e ele queria cantar "A bula do remédio e dôr". Claro que ele como dono da voz, de grande parte da letra e de posse do microfone na hora de todas as gravações e shows venceu até a minha conhecida disposição por argumentar detalhes, porque o demônio vive nos detalhes e nós dois éramos bastante detalhistas, logo...
Não demorou mais que uma semana para que A Arma e a Flôr passeasse pela programação da Brasil 2000 fm 107,3 em uma gravação produzida pelo Osmar Santos Jr nos estúdios da rádio em uma mesa de 8 canais e um tape de rolo. Dia desses achei essa gravação em K7 e futuramente a digitalizarei e acoplarei a esse post. Naquele tempo a Brasil 2000 fm, a rádio da ponta, era literalmente a casa de todas as bandas independentes de Sampa e apoiava todo o movimento, tudo o que se movia, sem os "meandros" costumeiros de rádios mainstream. Infelizmente quando A Arma e a Flôr teve sua gravação oficial em álbum sofremos uma grande rejeição por parte do Tatola, que, naquele ano, agora 1996, havia assumido a direção da rádio e boicotou completamente o Big Balls na programação, sabe-se lá por qual razão já que havia agora até uma gravadora envolvida e seus divulgadores estiveram com o próprio levando o álbum e musicalmente nem preciso dizer, o álbum fala por si. Já a 89 também não aceitou tocar Direto Pro Paredão, alegando que era "Hard Rock" demais e a rádio chegou a mostrar, pelo que nos foi dito, em uma reunião com nossos produtores uma faixa de uma banda nova como uma demonstração do tipo de Rock que eles achavam ser a nova linguagem e nela apostavam, o "Baba Cósmica". Sendo assim, o Tatola, que havia saído da 89 para dirigir a Brasil 2000 nos boicotou pois queria transformar a Brasil 2000 na 89 e a 89 nos boicotou porque éramos Rock e Hard demais em som e verbo. Ficamos sem o apoio da Brasil 2000, que era nossa casa e a qual vários da equipe haviam nos visitado no estúdio durante as gravações e aguardavam o lançamento para tocar, mas essa mudança de administração aconteceu exatamente durante os meses de finalização e lançamento do álbum.
Porém, que Deus e o Diabo (que é o tal pai do Rock), tenham a Brasil 2000 Fm em ótimo lugar, porque apesar desse período que durou uns 3 anos, ela sempre apoiou os independentes (e sou eternamente grato pelo apoio a tantos trabalhos em que me envolvi, como o Pedra já no séc XXI), e sempre foi a verdadeira rádio Rock de Sampa, junto à extinta 97 fm.
Enfim...pulei de 92 para 96 mas voltando à faixa, eu e Tharso a tocávamos pela noite em dupla acústica "Bagus Plenus" e até chegamos a crescer e virar por um breve período uma banda quando agregamos Norton Lagôa no baixo e Fernando Rapolli na bateria, passamos então a tocar em algumas casas e porões, onde rolasse, algumas datas no Morcegóvia,, que era o extinto Madame Satã e nos abriu as portas. Isso deve ter durado um ano e meio e desse time maior também nasceu outra das músicas que foram parar no álbum do Big Balls, "Minha Cabeça".
Com o fim do Bagus Plenus, eu havia vendido o apto em que morava e comprado uma casa caindo aos pedaços no bairro do Ipiranga para montar meu primeiro estúdio e tentar começar a produzir Demos.














O Big Balls estava parado desde o fim de 1992 e eu havia entrado no Nexus 6, onde tocava cover pela noite mas a vontade de voltar a produzir demos com o Big Balls era grande, afinal a banda ainda que estacionada, era a minha casa e meu xodó, mesmo que durante todo esse período eu tivesse feito parte também do Harppia e da Patrulha do Espaço onde gravei o álbum "Primus Inter Pares".
Sendo assim, após construir o estúdio em começo de 1994, caminhei para remontar o Big Balls como banda apenas autoral. Durante os anos de 1994 e 1995 vários músicos passearam pela banda, Rogério Fernandes, José Luiz Rapolli, Renato Panda Gonçalves, Marco Ackua Calomino, Pedro Crispi e Alex Soares enquanto eu produzia demos atrás de demos.
**(esses três últimos estão em várias demo tapes e os dois últimos no álbum Big Balls e com eles e Paulo de Tharso foi o período mais produtivo de toda a história da banda).
Essas demos culminaram com o contrato com a East & West da WEA e Continental e com a convocação do Paulo de Tharso para os vocais do álbum e sua inestimável parceria e genialidade. Muito obrigado, meu amigo. Foi e é uma honra ter minha história para sempre atrelada à sua.




O resto da história do Big Balls está distribuída em posts pelo site.
A Arma e a Flôr foi regravada ou finalmente gravada em formato banda e com magnífica produção no Mosh Estúdios em São Paulo para o álbum do Big Balls.
Lá fora o dia sempre continua de revolta, cá dentro continuamos conhecendo o texto.
Ano passado após quase 20 anos voltei a tocar A Arma e a Flor e a lancei ao vivo no show em que comemorei 35 anos de estrada no Sesc Belenzinho e no Live Sessions do Estúdio 500 juntamente a parceiros que generosamente emprestaram seus talentos para que essa história continue.
Muito obrigado, Fernando Janson, Ricardo Alpendre, Marcião Gonçalves e Ivan Scartezini.

A Arma e a Flôr - (Zupo/Tharso)
Hoje acordei com raiva de mim
Não gostei do que vi no espelho
Olhos saltados, olhos de rã.
Olhos de quem não tem a mente sã.
Lá fora o dia é de revolta, cá dentro já conheço o texto.
Eu vejo a cruz desesperada, a mão armada do rancor
A flôr por botas esmagada, a roda viva do terror.
Eu sei da mão que manipula a bula do remédio e dôr.
No espelho tudo se mistura, a cruz, a arma e a flôr.
Eu vejo a cruz incendiada, a mão armada do rancor.
A flôr por botas esmagada, a roda viva do terror.
Eu sei da mão que manipula a bula do remédio e dôr.
No espelho tudo se mistura, a cruz, a arma
Eu sei da mão que manipula a bula do remédio e dôr.
Cerzir a mágoa com agulha e transformá-la em cobertor.
Eu vejo a lua dos poetas ofuscada por neons
e morurôa engolindo, engolindo megatons.

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Você pode baixar todas as faixas de quase todos os álbuns que gravei em - https://soundcloud.com/xandozupo1