segunda-feira, 12 de julho de 2021

Faixa a Faixa nº 11 - "Big Balls Vol1" faz 25 anos e resgata faixa inédita

O "Faixa a Faixa" nº11 é diferenciado. Um Lançamento.
É após tocar minha guitarra junto ao disco inteiro do Big Balls que inicio essas linhas para falar sobre esse "resgate" ou lançamento inédito da banda, nascida em 88 e hibernada em 2001. 

Nesse ano, 2021, com características as quais nunca esperamos ver ou viver mas esperamos sim, sobreviver já se passaram vinte e cinco anos desde que aquela encarnação da banda gravou o único álbum, propriamente dito, Vol 1, para a East West/Warner no Mosh estúdios.

Naquele momento, 1996, a banda existia há oito anos e muita gente que eu considero extremamente talentosa havia já vestido a camisa e gritado esse papo de "culhões", como o nome exige, e ainda que a inspiração tenha sido uma faixa do AC/DC, acabou por abraçar essa ideia que pode soar machista para os padrões atuais mas definia e mais que nunca define muito bem o que é necessário para navegar esses mares do Rock Brasuca, contra tudo o que era esperado de nós, então tão jovens, quando empunhamos um instrumento pela primeira vez. Toda essa galera só queria uma coisa, viver e de preferência à mil por hora. Rock'n Roll, palco, volume, festa, botar pra fora aos berros o que amava e também o que odiava. Os dias eram assim.
Os anos de 1994 e 1995 haviam sido anos de reconstrução da banda, que eu iniciei em 1988 paralelamente à minha participação no Harppia (quem não conhece, procure saber sobre uma das bandas pioneiras de Heavy Metal brasileiro). Após alguns anos de Big Balls tocando covers de Hard Rock pela noite e com uma fita demo de 4 músicas lançada em 1989 era hora de reformular e aproveitar o primeiro estúdio que montei, para ensaios, na aclimação em SP e minha primeira "máquina" de gravação, um Tascam K7 de 4 pistas. Para isso o Big Balls tinha de deixar de ser a banda onde eu desopilava o fígado, ou destruía-o; enquanto navegava no Harppia e na Patrulha do Espaço onde gravei o LP Primus Inter Pares em 1992; e passar então a ser a minha banda principal e autoral.

A primeira tentativa desse plano, assim que montei o estúdio em 94, foi com 3 antigos companheiros que se misturavam entre o Big Balls e o Nexus 6 nos anos anteriores. Rogério Fernandes, Renato Panda Gonçalves e José Luiz Rapolli. Como absolutamente toda banda que se inicia ou reinicia, nunca ou raramente a primeira formação se mantém, sempre vai se peneirando até que se estabeleça um time. Essa peneira em casos como esse onde todos já se conhecem e sabem de suas capacidades tem relação com o momento da vida de cada um (disponibilidade, foco no mesmo objetivo, vontade de fazer) e o primeiro a não ficar foi o Rogério Fernandes, que estava em outros projetos (creio que já envolvido no início do Noni Brothers, banda a qual tocou por vários anos junto a grandes músicos e amigos).


    Big Balls Julho 1995 Centro Cultural Vergueiro SP  Ackua / Xando Zupo / Pedro Crispi / Alex Soares

A partir desse momento o movimento que levou o Big Balls a frente se inicia. O retorno do Ackua aos vocais da banda é um capítulo especial nessa história já que além de ter sido o primeiro vocalista, ter feito inúmeros shows entre 88 e 90, gravado a até então única demo tape nossa, havia sido nos 80's um tremendo companheiro de sons, sonhos, composições e baladas intermináveis pela noite paulistana. O retorno dele, sendo um cara que sempre esteve envolvido em composições, além de termos uma enorme afinidade de influências no Hard Rock 70's e 80's foi um tremendo impulso para desenvolvermos nos meses seguintes provavelmente uma dúzia de músicas novas, várias delas lançadas em nossa segunda Demo Tape, com capinha contendo fotos e informações, distribuída e vendida em shows que fizemos durante esse período, então já com Pedro Crispi no baixo e Alex Soares na bateria, ambos os quais tiveram papel também fundamental no desenvolvimento desse material. Três das músicas que foram gravadas no álbum no ano seguinte já com os vocais de Paulo de Tharso (R.I.P.), foram lapidadas e reescritas, mas vieram diretamente dos ensaios nesse período onde as canções ainda eram em inglês.

Não vou nesse texto discorrer por todo o processo de gravação ou a história da banda, penso que já falei bastante sobre o tema pelo site/blog e em alguns vídeos e entrevistas, vamos à canção.
"Hora de dizer adeus", originalmente "Hora da gente se cruzar" era, ou melhor é, uma canção do Ackua que nos apresentou-a em violão e foi arranjada pela banda durante a transição de repertório em inglês para português e durante as últimas semanas dele nos vocais do Big Balls. Um dos "blues" mais legais daqueles temas que ele trazia acústicos, (coloco Blues entre aspas pois a vejo muito mais como fruto das influências R&B do Ackua do que um blues raiz. Be My Woman, gravada em meu disco "I Got My Own World To Live" é outro bom exemplo dessas composições nascidas a partir do violão dele).
Vale um adendo à esse texto de que esse lançamento aqui do site trata-se de uma "memorabília", curiosidade e um fato inusitado da história da banda já que provavelmente haverão as duas versões da música. Ackua está preparando um Blues álbum onde oficialmente a canção em seu formato original deverá ser gravada e lançada.

Sendo assim teremos a história de uma música que não só possui letras diferentes, mas temas antagônicos (entre o "Olá" do Ackua e o "Adeus" de Tharso), entre a leveza das letras pop nas quais o Ackua trafega tão bem e a densidade e dramaticidade onde Paulo de Tharso nadava de braçada. Inacreditavelmente serão os dois (no caso da versão lançada aqui pelo Big Balls) parceiros acidentais temperando essa faixa, sem nunca terem se encontrado para esse fim ou ao menos falado sobre o tema.
Ocorre que quando Ackua deixou a banda já estávamos em tratativas com a Ralf produções para um possível álbum via Wea East West e distribuição da Continental, ainda que tivéssemos o nome do Paulo como uma grande possibilidade de agregar letras e a dramaticidade, que particularmente eu sempre busco, Ralf nos propôs que fizéssemos dois dias de testes com possíveis nomes para ocupar o posto e sendo assim uma fita K7 com 2 ou 3 das faixas em que estávamos trabalhando nos ensaios em meu estúdio foi enviada aos cantores que escolhemos e achávamos que poderiam ocupar o posto.
Vale dizer que o Paulo e eu já havíamos trabalhado juntos 2 anos antes em um "Alter Ego" do Big Balls chamado "Bagus Plenus" (referência que retirei do livro "Os Carbonários" de Alfredo Sirkys), de onde veio também uma das faixas gravadas no álbum do Big Balls, "A Arma e a Flôr", e naquele momento em que ele ainda cantava na banda "A Casa Caiu" desenvolvemos esse trabalho que começou como acústico e se transformou em banda ao agregar Norton Lagôa no Baixo e Fernando Rapolli na bateria, já que não haviam condições para que ele entrasse no Big Balls e eu ainda estava na Patrulha do Espaço, sendo assim é claro que havia um elemento a mais nessa possível vinda dele para o Big Balls, ainda assim fizemos as audições de coração e ouvidos abertos para vários grandes cantores que só foram contatados por serem claramente talentosos mas uma banda carece de algo acima ainda do talento, a química. Grandes bandas com músicos magníficos naufragaram pelo excesso de informação e falta de química.
Voltando ao tema, Paulo recebeu a fita K7 e agiu como as boas histórias acontecem...colocou seu tempero. Não só apareceu e cantou maravilhosamente mas surgiu com outras letras disparando por cima das canções que estávamos trabalhando. Claro que ele sabia bem o que estava fazendo e em sua mistura de ego (na acepção sadia do termo) e respeito, havia nos perguntado dias antes se poderia mexer um pouco nas letras para o teste e é claro, é óbvio que eu permiti, afinal sabia de quem se tratava e que viriam coisas sensacionais dali.
Sendo assim chegamos à "Hora de Dizer Adeus" naquela tarde de outubro de 1995 no estúdio do Fábio Cirello da banda Rock Memory e essa é uma das fitas remasterizadas para esse momento de 25 anos do álbum. Nosso amigo e um dos grande produtores Brasucas Nando Vieira remasterizou duas versões achadas em K7 no meu baú. A primeira é exatamente o dia das audições e por isso Paulo diz seu nome antes de cantar, para que quando ouvissem as fitas na produtora soubessem quem era o cantor. A segunda versão já é uma pré produção, também ao vivo, no estúdio Bom Som, do amigo Burú, e além de ter um áudio melhor preservado, conta com o Paulo já totalmente agregado ao time e a banda tocando mais desenvolta uma faixa que críamos que iria para o álbum.
Infelizmente não aconteceu assim. Coisas da vida e do Rock.
Existem duas outras faixas no álbum assinadas em parceria com o Ackua, (Balacobaco e O Anel de Zapata), porém essa faixa em questão naquele momento não teve o aceite do Ackua para que fosse gravada com a letra do Paulo pois ele tinha a intenção de gravá-la com a letra original e a queria guardar para esse fim, ao mesmo tempo nós estávamos com a nova versão totalmente agregada ao material que seria gravado e à vibe do álbum, sendo assim, a deixamos de lado.
Confesso que foi bastante frustrante não gravá-la, poderia ter sido uma das grandes faixas do álbum mas sempre compreendi a posição do Ackua, afinal é uma filha direta dele, ainda que, aqui, arranjada pelo Big Balls.
Agradeço do fundo do coração ao Ackua por ter autorizado esse "resgate e memorabília" da história do Big Balls, por poder apresentar essa faixa às pessoas que acompanharam a banda naqueles tempos e que acompanham de alguma forma meus trabalhos durante todos esses anos, especialmente por poder trazer à tona a voz e interpretação nitidamente à flor da pele de um grande amigo e companheiro da música que estará eternizado enquanto houverem ouvidos para as canções, Paulo de Tharso (D.E.P.).
Big Balls em novembro de 2021 completaria 33 anos, completa agora 25 do lançamento do álbum e vive eterno no meu coração, lembranças, histórias e quem sabe, como tudo que se rega nunca morre...

A Hora de Dizer Adeus pode ser também A Hora da gente se Cruzar.
Boa audição.

  


           

                                            


Big Balls Novembro 1995 -  Paulo de Tharso / Xando Zupo / Pedro Crispi / Alex Soares


Abaixo, as duas versões em vídeo e links do Soundcloud (Em Breve) para baixar o mp3 para quem quiser.
Espalhem, amigos. Espalhem a canção por aí. Música é feita para se ouvir.
Muito Obrigado. Longa vida a todos. Cuidem-se bem.


Versão 1 - Outubro de 1995 - Estúdio do Rock Memory - Teste e audição e, na minha opinião, a versão mais intensa da banda.

Estreia - 13/07/2021 - Youtube 23:45

 

Versão 2 - Novembro de 1995 - Estúdio Bom Som (Burú) - Aqui a banda já mais ensaiada e uma pequena mudança na letra (de "Fico sozinho com o universo inteiro" para "Fico sozinho com esse nó no peito", eu prefiro "com o universo inteiro"), mas de testes e improvisos de letra que o Paulo mudava na hora. O áudio desta versão é superior ao do dia do teste e menos chiado.

Estreia - 14/07/2021 - Youtube 00:00hs






A Hora de Dizer Adeus (Marco "Ackua" Calomino / Paulo de Tharso)

Por onde o amor passou deixou uma longa trilha de corações partidos
Onde os heróis também são os bandidos e todos saem feridos
A vida escreve peças de teatro.
No último ato cada macaco no seu galho.
Já é hora de dizer adeus. De cada um seguir na paz de Deus.
Eu vou levar aquelas velhas poesias, esvaziar o peito e a garrafa de whisky.
Eu sei que eu vou sentir saudades dos teus braços e vou levar as raivas feitas de cansaço.
Fico sozinho com o universo inteiro (com esse nó no peito **)
Escuto em silêncio o grito desse meu tormento
Já é hora de dizer adeus. De cada um seguir na paz de Deus.
Ficam pra trás as sensações inúteis, paixões violentas, amores intensos.
Todas as coisas que dizem eternamente. As orações escritas nas portas dos banheiros.
Eu sei a quem avia o infinito, eu sei a quem deseje o impossível.
Já é hora de dizer adeus. De cada um seguir na paz de Deus.